✦ Entre aeroportos, urgências e excelência: O outro lado das minhas viagens

Summary:

Entre viagens inesperadas, atrasos intermináveis e dias sem dormir, esta foi uma jornada intensa que pôs à prova a minha resiliência e paixão pelo que faço. Porque por trás de cada projeto bem-sucedido, existe sempre uma história que poucos conhecem.

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Muita gente olha para aquilo que partilho e pensa que a minha vida é perfeita. Que é só viajar pelo mundo, ficar nos melhores hotéis, trabalhar com projetos especiais, ganhar bem. Que tudo acontece sem esforço.

A verdade? Nada é tão simples. Nada é fácil.

Há algumas semanas, fiz-me à estrada para mais uma jornada de trabalho no Algarve. Quatro horas de viagem até Albufeira, até ao Pine Cliffs. Paragem obrigatória para abastecer, café na mão, esticar as pernas e respirar fundo. Cheguei preparado para sete dias intensos: tastings para a gala anual, visitas a todos os outlets do resort, afinar cada detalhe das sobremesas, formar a equipa para reorganizar processos e ainda criar churros sem glúten para um evento especial.

O que era para durar uma semana inteira, acabou por ficar concluído em dois a três dias, com tudo aprovado e os chefes satisfeitos. Foi aí que o telefone tocou.

Arábia Saudita.

Precisavam de mim daí a dois dias. Um tasting urgente para um evento de enorme prestígio, com participação do governo saudita. Altamente confidencial e importante. Valores altos, pressão máxima.

Respirei fundo. Tinha acabado de chegar. Disse que falaria com o meu cliente do Algarve, porque palavra dada é palavra honrada. Felizmente, pelo trabalho já cumprido e a confiança construída, tive compreensão total: poderia ir, com o compromisso de voltar e terminar os dias em falta.

Naquele momento, começou a maratona:

– Lavandaria de hotel, porque não tinha roupa suficiente para prolongar a viagem.

– Uber às 6h da manhã rumo ao aeroporto de Faro, que estava apinhado. Meia hora de fila para os controlos de segurança.

– Voo atrasado. Chegada a Amesterdão, outro atraso de quatro horas e meia.

– Aterro finalmente em Jeddah, já passava das duas da manhã. A minha mala… não tinha vindo comigo.

– Depois de mais de uma hora de espera e tentativas de perceber onde estava a bagagem, cheguei ao hotel. Dormi três horas.

E lá estava eu, de volta à cozinha de produção. Dois dias seguidos de trabalho intenso, sem sinal da mala. Ninguém sabia onde estava. Soube depois que, por causa dos espaços aéreos encerrados devido a conflitos na região, o voo da mala tinha sido cancelado. Enquanto isso, eu seguia sem farda, sem roupa interior, sem nada além da roupa que trazia desde Portugal.

No fim do segundo dia, viagem para Riade. A mala, claro, ainda não tinha aparecido. No dia seguinte, lá chegou a Jeddah, e foi o CEO da empresa que a trouxe para mim. Só aí, depois de vários dias, pude finalmente mudar de roupa e recuperar algum conforto.

Em Riade, esperámos a carrinha refrigerada vinda de Jeddah, enquanto preparava sozinho todos os detalhes do tasting. O dia seguinte amanheceu cedo. Pressão máxima, nervos à flor da pele. Aquela apresentação era crucial para consolidar a presença da empresa como marca de prestígio na região.

O tasting correu muito bem. Feedbacks positivos, clientes encantados, missão cumprida.

Mas ainda não era hora de respirar fundo. Três horas depois, estava no aeroporto de Riade, onde o voo atrasou mais duas horas para Frankfurt. Chegado a Frankfurt, mais espera. Por fim, partida para Faro.

Quando aterrei, era já de madrugada. Uber até Albufeira, apanhei o meu carro e fiz as quatro horas de volta a casa.

Foram dias que me ensinaram, mais uma vez, que ser feliz não é fácil. Que ter trabalho, ter quem acredite em nós, ter quem conte connosco não é fácil.

Nada cai do céu.

Se queres mais do que os outros, tens de fazer mais do que os outros. Tens de aceitar o desconforto, os contratempos, a exaustão. Tens de manter a paixão viva no meio do caos.

Foi duro. Mas foi também profundamente gratificante. Dois clientes importantes, equipas felizes, objetivos cumpridos. Espero, sinceramente, que consigamos este novo projeto na Arábia, e que daqui a um ano lá esteja eu novamente — em mais umas aventuras dignas das Arábias.

Porque no fim do dia, o que fica não é o cansaço. É a certeza de que fiz tudo o que podia, tudo o que sabia, tudo o que era necessário.