
Give your post an interesting title
Na pastelaria técnica, não basta saber fazer. É preciso compreender o porquê das texturas, comportamentos e reações. E um dos ingredientes mais importantes para controlar essas variáveis é o amido.
A diferença entre um creme estável, liso e sedoso — e outro que se separa, talha ou “borracha” — pode estar simplesmente no tipo de amido que escolheste.
Neste artigo, explico de forma directa e prática:
O que são amidos tradicionais e modificados
Como atuam em diferentes contextos técnicos
Quando escolher cada um
E por que fazem tanta diferença, sobretudo em pastelaria moderna
O papel dos amidos na pastelaria
O amido é um polissacarídeo presente em alimentos vegetais como milho, arroz, batata ou mandioca. Em pastelaria, é usado para:
Espessar líquidos (cremes, coulis, recheios)
Dar corpo e estabilidade
Evitar sinérese (libertação de água em repouso ou congelação)
Controlar textura, brilho e sensação na boca
Mas nem todos os amidos se comportam da mesma forma. A escolha entre um amido tradicional e um amido modificado pode mudar tudo.

Amidos tradicionais: o que são e como atuam
Os amidos tradicionais são os mais utilizados na pastelaria clássica. São extraídos de fontes naturais como milho, batata, arroz ou trigo, e não passam por nenhum processo de modificação laboratorial.
Exemplos comuns:
Amido de milho (Maizena)
Fécula de batata
Amido de arroz
Araruta
✔️ Comportamento técnico:
Estes amidos necessitam de cozedura a temperaturas entre os 70°C e os 90°C para gelatinizar, ou seja, para que os seus grânulos absorvam líquido, inchando e formando uma rede espessante.
No entanto, para que a textura fique suave e sem sabor residual, é fundamental que o creme atinja a fervura e seja mantido a ferver por alguns segundos a alguns minutos. Isso permite:
A destruição completa da estrutura crua do amido
A eliminação da sensação farinhenta ou áspera na boca
Uma textura final mais limpa, coesa e estável
Se esta etapa for encurtada ou mal controlada, o creme pode ficar com:
Textura arenosa ou pastosa
Sabor de farinha crua
Instabilidade ao arrefecer (formação de película ou separação)

Amidos modificados: a ciência ao serviço da pastelaria moderna
Os amidos modificados são derivados de amidos naturais (como milho, arroz ou tapioca), mas passam por processos físicos, químicos ou enzimáticos que alteram a sua estrutura molecular, tornando-os mais versáteis, estáveis e adaptados às exigências da pastelaria contemporânea.
Mesmo com estas alterações, continuam a ser ingredientes de base vegetal e são perfeitamente seguros para uso alimentar. A sua principal função é garantir textura, estabilidade e desempenho superior, mesmo em condições adversas como:
Congelação e descongelação
Ambientes ácidos
Produções que exigem espessamento a frio
🧪 Exemplos comuns de amidos modificados usados em pastelaria moderna:
🔸 Ultratex (Ingredion)
Amido de tapioca modificado, usado para espessar líquidos a frio. Ideal para coulis, molhos, purés de fruta ou bases que não podem ser aquecidas. Textura sedosa, sem sabor residual.
🔸 StarchCook (Louis François)
Amido modificado resistente ao calor intenso e à acidez. Excelente para cremes cozinhados com frutas cítricas, compotas modernas e aplicações que vão ao forno.
🔸 Amido acetilado (E1422)
Usado frequentemente em pastelaria industrial, tem excelente capacidade de absorção de água, o que reduz a sinérese após congelação. Cria texturas estáveis e brilhantes, especialmente em recheios e sobremesas ultracongeladas.
🔸 Amidos pregelatinizados
São amidos já parcialmente cozinhados, que reagem rapidamente mesmo a temperaturas baixas ou moderadas. Ideais para misturas instantâneas, geles rápidos ou mousses frias.
🔸 Amido modificado da Sosa – Amido Frio
Este produto específico da Sosa Ingredients é um amido modificado pregelatinizado, com grande capacidade de espessamento a frio, e ótima absorção de humidade.
✔️ Pode ser usado em molhos, cremes, coulis, recheios de fruta ou lacticínios.
✔️ Textura brilhante, elástica e estável, mesmo após congelação.
✔️ Excelente para aplicações onde o calor não pode ser utilizado.
🔍 Nota técnica: absorção de água e sinérese
Uma das grandes vantagens dos amidos modificados é a sua elevada capacidade de absorção de líquidos, o que reduz drasticamente a sinérese — fenómeno em que os líquidos se separam da estrutura do creme após repouso ou congelação.
Essa retenção de água cria texturas mais estáveis, homogéneas e agradáveis na boca, especialmente em sobremesas que vão a congelação, vitrines refrigeradas ou empratamento a temperaturas controladas.
Vantagens técnicas dos amidos modificados
Espessam a frio: ideais para mousses, coulis ou cremes com fruta fresca.
Alta capacidade de absorção de água: retêm líquidos, o que evita sinérese mesmo após congelação.
Estabilidade em meios ácidos: perfeitos para limão, yuzu, maracujá, etc.
Maior transparência e brilho: texturas mais limpas, menos baças.
Textura final mais leve e sedosa, sem aspereza na boca.
Reação rápida: ideal para produções mais ágeis ou para bases líquidas delicadas.
Comparação prática: Tradicional vs. Modificado
Necessita Cozedura
Amido Tradicional – Sim
Amido Modificado – Não (em alguns casos)
Transparência
Amido Tradicional – Opaco, Baço
Amido Modificado – Translúcido, Brilhante
Estabilidade ao Congelar
Amido Tradicional – Baixa – há sinérese
Amido Modificado – Alta – absorve mais água
Sensação na Boca
Amido Tradicional – Mais espessa, ligeiramente pesada
Amido Modificado – Suave, sedosa, “clean”
Reação a Ingredientes Ácidos
Amido Tradicional – Instável, pode perder textura
Amido Modificado – Estável, não quebra
Tempo de Gelatinização
Amido Tradicional – Médio a Lento
Amido Modificado – Rápido
Exemplo de Usos
Amido Tradicional – Creme pasteleiro, Flan francês, pudins
Amido Modificado – Coulis de fruta, cremes frios, recheios de bombons
Quando e porquê usar um ou outro
➤ Usa amido tradicional se:
Queres respeitar uma receita clássica e tradicional
Vais cozinhar o creme completamente
Não vais congelar ou refrigerar por muito tempo
Pretendes uma textura mais firme e densa
➤ Escolhe amido modificado se:
Vais congelar e precisas evitar sinérese
Queres textura mais limpa, fluida e moderna
Vais trabalhar com frutas ácidas ou frescas
Precisas espessar a frio, sem alterar o sabor
Conclusão
Num mundo onde a pastelaria está cada vez mais ligada à ciência e à inovação, compreender os ingredientes com profundidade faz toda a diferença.
Os amidos modificados não são “melhores” nem “piores” — são simplesmente ferramentas específicas para necessidades técnicas concretas. Saber quando e como usá-los é o que te diferencia como pasteleiro profissional.
👉 E tu? Já experimentaste usar amidos modificados nas tuas criações? Qual foi o impacto? Partilha a tua experiência nos comentários ou envia-me uma mensagem — gosto sempre de aprender com outros profissionais.